terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Herois de verdade

 
                                               Foto: Google

 Gostemos ou não, o BBB é um sucesso. É o programa de maior audiência da televisão brasileira. Para quem não gosta, o sentimento pode ser de lamento pelo tempo e espaço perdidos e que poderiam estar sendo mais bem empregados em causas mais nobres.

Entretanto, mesmo não gostando, não é possível ignorar o fato de que há tanta gente que gosta. E a pergunta sobre o porquê desta preferência pode ser reveladora sobre o tipo de sociedade que estamos construindo ou valorizando.

 Difícil saber quem influencia quem, se o programa ou a audiência. Parece que os meios justificam os fins e já não importa quem vença no final, desde que vença. Tende a nivelar por baixo a natureza humana, a expor como entretenimento o que existe de pior em nós, egoísmo, individualismo, uso e manipulação dos outros para atingir objetivos pessoais, como se fossem atitudes naturais, que devemos aceitar como parte do jogo da vida.

 Os valores ruins, que ensinamos aos nossos filhos a não ter, são reforçados como bons ou como não tão ruins assim, dependendo das circunstâncias e do que estiver em jogo.

 E quando o apresentador, jornalista e escritor, Pedro Bial, denomina de heróis, aos participantes do BBB, não deve estar falando sério, no mínimo deve estar sendo irônico, pois não há nada de heróico no BBB.

 Para quem não sabe herói não quer para si, doa-se aos outros. Herói faz a coisa certa, quando a coisa certa precisa ser feita, às vezes ao custo da própria vida e prazer pessoal, ou de algum prêmio no final. Heróis são todos os brasileiros, por exemplo, que se doam apesar dos baixos salários e das péssimas condições de vida para estudar, formar uma família, educar filhos melhores para um mundo que sonham melhor, em vez de simplesmente abandonar tudo, virar bandido.

 Lembro de alguns heróis que tive a sorte de conhecer e que fizeram a diferença em minha vida, como ambientalistas que se envolvem e lutam por um país melhor, com menos injustiças, com o meio ambiente preservado, com mais liberdade e democracia. E muitos morreram ou sofreram por isso, como Chico Mendes. É o amor ao próximo e ao país elevado ao seu grau máximo de cidadania.

 A mim, resta aceitar e conviver com a idéia de que não faço parte da maioria que nada alegremente nessa corrente. Resta-me nadar no sentido contrário. É mais difícil e cansativo, mas é o jeito que encontrei de me manter lúcido. O que me conforta é saber que mesmo em minoria não estou sozinho, afinal, os leitores que não se importam jamais teriam chegado até aqui, ao final dessa crônica.

Vilmar Sidnei Demamam Berna 

É escritor e jornalista, fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental e edita desde janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente  e o Portal do Meio.  Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.

Fonte:http://www2.uol.com.br/omossoroense/mudanca/conteudo/artigos.htm

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