domingo, 29 de maio de 2011

Ínfimo desabafo


                                                             Foto: Google

Passo noites sem dormir
Sonho com o desconhecido e ele ainda nem existe
Os pensamentos amargos se avultam
Eterna madrugada

Em meio à abundante vida
Nunca tinha percebido sua escassez
Embora querendo gritar, faço silencio
Mal vejo a vida que passa lá fora
Não, não é lamento!
Independe de minha vontade
Embriagadas noites
Silenciado pelo desconhecido
Teu olhar vagueia
Balbuciando uma explicação qualquer
Imbricações de amargura
Lamentações que rasga-me a carne
Um pedaço de mim sofre dores de parto
Atado à exaustão
O amor não se abala, não deixarei que morra em mim
Embora não saiba pedir, a resposta sempre vem
Proteção gestacional divina
Do pranto, faz-se o riso
Sou incapaz de desvendar
Sobre a noite passada
Meu grito ecoa na fria madrugada
A fragilidade me refaz
Necessito da dor que recomeça insistente
Se ela não me maltratasse tanto
Eu não teria a força de hoje
Alexandre Medeiros

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Destaques Profissionais

Já considerada como um dos grande eventos da cidade de Pau dos Ferros/RN, a Festa dos Destaques Profissionais acontecerá no próximo dia 28, organizada pelo colunista social Lisboa Batista. O objetivo é valorizar o trabalho e apresentar à sociedade os profissionais que se destacaram no ano de 2010.

Com satisfação, parabenizamos duas profissionais em especial: a vereadora Zélia Maria Leite e a diretora Maria Eligilda Dutra.

Zélia Leite realizou no último ano excelente trabalho no Poder Legislativo municipal, sempre traduzindo muito bem os interesses da população local. Eleita vereadora pela primeira vez, conquistou reconhecimento político e já se mostra como um dos nomes mais fortes para o próximo pleito eleitoral, tanto por sua competência e responsabilidade como também em razão de sua proximidade com a população que representa.






Eligilda Dutra ganhou destaque pela sua competência na gestão da Escola Estadual Tarcísio Maia que, em 2010, foi campeã nacional nas Olímpíadas de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Merece destaque, também, seu trabalho pela inclusão de crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais na educação regular, em atenção à garantia constitucional de acesso à educação de qualidade.





O resultado geral da pesquisa Destaques Profissionais 2010 encontra-se disponível no Blog Clistenes Carlos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Educação

Por Ýkaro Campelo

Nas redes socias, a professora norte-rio-grandense, Amanda Gurgel, já é intitulada como a heroína da classe de professores por seu depoimento em uma audiência pública, na qual silencia os Srs. deputados de nosso Estado além de outras autoridades, visto que suas colocações é o diagnóstico da situação real de uma educação que os políticos dizem nas campanhas eleitorais querer torná-la de qualidade, no entanto não passam de discursos eleitoreiros porque nada fazem de concreto para a mudança dessa realidade.

O vídeo já tem 54 mil acessos no You Tube, desde o dia 18 deste mês de maio (2011), e, o nome dela já está na lista dos tópicos mais populares do Twitter. A professora Amanda Gurgel questiona aos Srs. Deputados, sem querer causar-lhes constrangimento, se eles seriam capazes de sobreviver com um salário base de R$930, acreditando que não é o suficiente nem se quer para comprar a indumentária que usam para frequentar a Assembléia Legislativa.

Diz ainda que não se sente contrangida em apresentar o seu contracheque, pois eles que deveriam sentir constrangimento com a situação atual da educação que temos em nosso Estado e até mesmo em nosso país.
Argumenta sobre a impossibilidade de um trabalho educacional de qualidade a partir do salário do professor, assim como também das nossas condições de trabalho. R$930 no turno matutino, vespertino e noturno. Sem contar que são R$930 para vestimentas, calçados, alimentação e locomoção. E falando em alimentação: segundo ela, ainda sofremos o constrangimento da "alegação" do prato de cuscuz comido da merenda escolar quando sobra dos alunos. Merenda escolar em algumas realidades é isso mesmo: "cuscuz com 03 dedos medidos de suco para ajudar a descer". E é porque a professora Amanda Gurgel talvez nunca viu ser servido em escolas "biscoito com ki-suco de laranja, morango..." . E, os que ousam em comprar um carro para facilitar a locomoção nos três expedientes para 02 ou 03 escolas, sorteiam os dias para usar o tal automóvel. Afinal, com esse salário quem pode abastecer diariamente seu carro?

Bom, como disse Amanda Gurgel, não dá mesmo para o professor ser redentor com um pedaço de giz e um quadro, todavia já que somos professores, educadores e formadores de opinião vamos acreditar que a partir de agora com a coragem e a ousadia de tornar público para a sociedade a verdade de nossa educação, aproveitando a força da mídia que tem finalmente mostrado essa realidade na televisão: "a má qualidade da merenda escolar", "os riscos que correm os alunos com a inadequação do transporte escolar", " a falta de profissionais habilitados em várias áreas do conhecimento nas escolas", alguma coisa deve mudar e melhorar.

Sensibilizar alguns políticos é complicado, no entanto a sociedade podemos sensibilizá-la porque é ela quem sempre tem nos apoiado, visto que é por ela e para ela que precisamos ter o melhor dos nossos serviços prestados.

Matéria disponível em http://registrosandinformations.blogspot.com

domingo, 22 de maio de 2011

OAB divulga resultado preliminar

mural de percepções recorreção de provas oab O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou na última quinta-feira (19) o resultado preliminar da 2ª fase do Exame de Ordem 2010.3.

Os candidatos que desejarem entrar com recursos contra o resultado da prova deverão acessar o endereço eletrônico http://oab.fgv.br e seguir as instruções do Sistema Eletrônico de Interposição de Recurso, disponível no site. O período para realizar esse procedimento vai das 00h00min do dia 23 de maio de 2011 às 23h59min do dia 25 de maio de 2011.

Inscreveram-se no Exame de Ordem 106.855 candidatos e, com o resultado preliminar, 11.856 obtiveram aprovação (apenas 11,09%).

Dentre os novos advogados estão os amigos:

ALESSANDRA KARLA CLEMENTINA DA SILVA RIBEIRO

CAIO RAMON GUIMARÃES DE OLIVEIRA

DANIELLI CONCEIÇÃO LOPES BRAZÃO SILVA

DEMÉTRIUS DE SIQUEIRA COSTA

FRED FILGUEIRA DE QUEIROZ

INGRID NÓBREGA VILAR NASCIMENTO

JAMILA MARIA RODRIGUES DE VASCONCELOS

JHÉSSICA LUARA ALVES DE LIMA

JOÃO PAULO MENESES BEZERRA

ROBERTA GRASIELY BENTO SILVA

Parabéns a todos pelo esforço e dedicação! Para ver a lista completa dos aprovados clique aqui.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ministério Público convoca estagiários de Direito

Saiu hoje, 18, a convocação dos aprovados no VII Concurso para Credenciamento de Estagiários do Curso de Direito do Ministério Público. Os convocados tem até cinco dias úteis para efetuar seu credenciamento junto ao MP. Eles devem apresentar os seguintes documentos: duas fotos 3x4; cópia e originais de RG e CPF; cópia e original do comprovante de residência; cópia e original de comprovante de estar em dia com o serviço militar; cópia e originais do título eleitoral e comprovante de estar em dia com as obrigações eleitorais; atestado médico que comprove estar o candidato apto ao exercício das funções de estagiário; certidão onde conste o horário das disciplinas que está cursando e período em que está matriculado; declaração indicando a atividade pública ou privada que exerce, com menção de local e horário de trabalho; Certidões Negativas de antecedentes criminais expedidas pelos cartórios de distribuição da Justiça Federal, Estadual, Eleitoral e Polícia Federal onde tenha residido nos últimos cinco anos; Certidões de adimplência expedida pelos Tribunais de Contas da União e do Estado onde tenha residido nos últimos cinco anos; e Declaração de não ter cometido crime contra a Administração Pública nos últimos cinco anos.

Para o pólo de Mossoró estão sendo convocados:

1º THIAGO KERENSKY DE MORAIS COUTO
2º ELIABE GUERRA DE LIMA
3º ULYSSES VIANA GONÇALVES
4º TAUMATURGO OLIVEIRA PAIVA
5º PATRICIA VIVIANE BARRETO GOMES
6º JOSE ALBERTO TERCEIRO GUEDES
7º ITALO THIAGO SILVA CUNHA
8º MARIA DANIELE RIBEIRO
9º LYGIA RAABY JUVENCIO DE ARAUJO
10º THAIS PESSOA CABRAL
11º WANESSA MAGNELLI MEDEIROS NOBREGA
12º MARCOS ANDRE GURGEL DA SILVA
13º BENVENUTO DE HOLANDA SOBRINHO
14º HEYTOR GEORGE MEDEIROS DA SILVA
15º ELIZEU MARQUES GOMES
16º PAULO ALBERTO SOBRINHO
17º ALVINO BONSUE RODRIGUES ALVES FEITOSA
18º RAIANA GOMES DO ROSARIO
19º ROQUE SCHNEIDER CAVALCANTE
20º RAYLSON SILVA DE SOUZA

1º MARIA DAS GRAÇAS DA SILVEIRA BARRA (Vagas reservadas)

O Blog parabeniza todos os convocados e, em tempo, felicita a estudante GLENDA LÍCIA SALDANHA PONTES DINIZ por sua convocação pela Procuradoria da República em Mossoró.


Dúvidas sobre perda de peso

O endocrinologista Alfredo Halpern esclareceu algumas dúvidas sobre perda de peso e efeito sanfona, em matéria publicada pelo G1.

Segundo o especialista, o metabolismo geral de um indivíduo é a soma do metabolismo em repouso (70% do total de queima calórica, variável de pessoa para pessoa), do metabolismo da atividade física e do metabolismo responsável pela queima do que se come (proteínas são mais facilmente consumidas que carboidratos e gorduras).

O metabolismo da atividade física pode ser acelerado, e os exercícios também ajudam a aumentar os músculos e a massa magra do corpo. Suplementos alimentares não fazem ganhar massa muscular – o que faz isso é ganhar peso e malhar. Ao engordar, uma pessoa adquire metade do peso em gordura e metade em massa magra. Hormônio do crescimento, testosterona e anabolizantes podem elevar o percentual de músculos, mas prejudicam a saúde e podem até matar.

Perder e ganhar peso continuamente também pode deformar o corpo e causar estrias (rompimento de fibras embaixo da pele), por isso essa oscilação deve ser evitada. Em algumas mulheres, anticoncepcionais podem engordar – e em geral não adianta mudar de marca. As que têm essa tendência também correm maior risco de ganhar peso na gravidez.

Ração humana e shakes ajudam a emagrecer, disse Halpern. Esses produtos contêm nutrientes e uma quantidade de calorias menor que as de uma refeição normal. Mas é preciso ficar atento à procedência deles e fazer a substituição por shakes no máximo três ou quatro vezes por semana.

Por fim, o médico disse que remédios para emagrecer dificilmente causam dependência, como é o caso dos anfetamínicos. Pacientes com histórico de dependência – por álcool ou drogas – não devem tomar esses medicamentos.
Para saber quantas calorias você gasta por dia, em repouso e em exercício, CLIQUE AQUI.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Estado não pode impedir mau gosto

 

0002694,luis-gonzaga-e-fagner Reginho & Banda Surpresa - Minha Mulher Não Deixa Não (2011) 

                                                           Imagem 1                                                                Imagem 2

Minha falta de personalidade não para de me encabular.

Em algum instante de um passado recente, uma erva medicinal e uma bebida, cuja combinação à mesa sempre levantou as mais fundadas suspeitas gastronômicas, transformaram o vaqueiro num “peão” – que até então ninguém no Nordeste tinha a menor idéia de onde tinha vindo nem pra onde ia. Desde este dia que eu defendo e torço com todas as minhas forças pra alguém tomar alguma atitude mais enérgica pra tentar estancar este processo de completa extinção da memória da música nordestina autêntica, tradicional.

Agora, quando alguém finalmente toma esta atitude, bato pino.

Pergunto a mim mesmo se será apenas esta minha falta de personalidade crônica que não permite que eu endosse integralmente as restrições que o secretário Chico César faz em relação a estas manifestações musicais regionais que não têm o brilho d’outrora, mesmo tendo sonhado que alguém tivesse a coragem de fazer isso durante tanto tempo.

Porque discriminação eu mesmo faço, na minha casa, com todo orgulho. Discrimino, mesmo. Posso, devo, faço e não tem quem empate. Há uma sanfona em minha casa, em cujas teclas e baixos vez por outra me arrisco, e que proporciona a mim e aos meus uma diversão renovadora de final de semana. Pertenceu ao saudoso Josinaldo, que a transmitiu a Braz do Congo, que, por sua vez, confiou-a a mim através de Robertinho, pra que eu lhe desse algum uso, por pobre e limitado que fosse. Está sob os meus cuidados. Dela, não sai o que eu acho que não presta. Quer acabar com a brincadeira? Insista. Já acho desrespeito suficiente eu me valer dela pra fazer o que eu faço. Agora, submetê-la à desonra dos desmandos musicais deste mundo ingrato, aí nem pensar. Seria fazer o lendário mestre se revirar em seu lugar de descanso eterno.

Mas isso é lá em casa, onde, na ausência de minha mulher, mando eu.

Houve um tempo em que tudo fazia sentido no forró nordestino. Na casa de meus pais, tios e avós, onde se ouvia Luiz Gonzaga, Marinês, Trio Nordestino, os Três do Nordeste, Genival Lacerda, as letras cantavam as coisas da terra, do amor e do povo, as melodias eram simples, singelas, sutis, sem muita elaboração, mas poéticas e agradáveis. Até os nomes dos artistas e das atrações pareciam mais verdadeiros, mais honestos. Havia outras vertentes de música, umas mais socialmente engajadas, outras mais engraçadas, irreverentes, até picantes, mas que também divertiam o público.

As manifestações musicais de hoje, em todos os gêneros, nos permitem algo que nunca antes da história da cultura, neste ou em outro país, tinha sido possível: a constatação objetiva do mau gosto. Nas aulas de Direito Autoral, tenho o hábito de provocar os alunos a discutir conteúdo estético como requisito essencial para que determinada obra artística tenha sua proteção reconhecida pelo sistema jurídico. Faço questão de esclarecer que a noção de conteúdo estético não tem a função nem a condição, por si só, de separar as obras nas categorias demau gosto e bom gosto.

Lembro de memória que artistas como Capilé, Jorge de Altinho, Assisão e Alcimar Monteiro, apenas citando alguns exemplos, já representavam e promoviam, a seu tempo, uma certa evolução no estilo de forró que até então se considerava tradicional. Não me recordo, contudo, daquele movimento causar tanto incômodo nem desconforto, muito menos o grau de revolta de hoje. Isto sugere que aquela transformação era encarada como positiva, modernizava a sonoridade, a linguagem, abria espaço para novos nomes, novos projetos, contribuições, mas sem degenerar o petróleo bruto de onde a nova gasolina aditivada tinha saído. De fato, mesmo depois de todo o redesenho rítmico, musical, harmônico e estético do estilo, no final das contas, Jorge de Altinho ainda cantava Petrúcio Amorim, que defendia a verdade melosa de que “(...) enquanto a cabeça não sabe o que o coração sente/navega o corpo vadio em mares de amor (...)”. Ali, a essência ainda existia em esplendor. Claro que havia a discussão. Popular demais pra alguns, simplório ou piegas pra outros, autêntica pra alguns outros, o fato é que esta discussão é legítima sempre, e representa bem a dificuldade estética conceitual de se distinguir o belo do feio, o bom do mau gosto.

Mas esta dificuldade se reduz a zero, quando a sensibilidade se externa, por exemplo, através da conclusão de que “Amor de rapariga não vinga não (...)”, quando o pagode sugere, sem muita doçura que “(...) então amasse a latinha com a bunda/senta, senta” ou quando o lirismo sensível do funk da Tati sugere sem tanto pudor “(...) Abre as pernas, mete a língua”. O extremo de licença poética às vezes pode ser percebido na mera enumeração das canções que integram um determinado CD, como “Te deixar Taradinha/Dança da Cobra/Senta Relaxa/Pegue Aqui/É bem Docim Mamãe/Tapinha na Bundinha/Minhoca Aí” (tudo isso num CD só), entre diversas outras. Problema resolvido. Mau gosto detectado com margem de erro zero. São cenas musicais de sexo explícito, pornomúsica que não se pode sequer cantarolar na frente de crianças ou em ambientes em que a embriaguez absoluta não tenha destruído os freios inibitórios e morais de todos os presentes.

Mentira descarada ou preguiça intelectual imperdoável de quem diz que esta é a forma do povo se expressar. Não é não. Nasci e cresci num bairro humilde. Conheço e convivo com muita gente de periferia. Não é assim que nos expressamos, nem essa é a única forma possível pra alguém se expressar. Estas manifestações não são fruto de falta de alternativa de expressão; são o resultado de uma opção errada de manifestação, deturpada por quem encara liberdade apenas como uma garantia pessoal geradora de direitos, e não como um privilégio social gerador de deveres. Não se lutou e conquistou o direito de se expressar livremente em público para garantir excessos de flagrante, nocivo e objetivo mau gosto, com a mera finalidade de conseguir atenção e os demais dividendos – dinheiro, popularidade, poder e espaço em divulgação – que a notoriedade moderna proporciona.

Apesar da pobreza estética de hoje permitir esta constatação objetiva do mau gosto, repito, esta conclusão pode produzir efeitos lá em casa. Eu, cidadão, posso fazer esta distinção. Meu vizinho pode, o produtor musical também pode, o crítico pode, o veículo de comunicação pode, o artista Chico César também tem esse direito. Mas, observando essa polêmica recente, e os seus desdobramentos, tenho a convicção de que o agente público Chico César não tem essa prerrogativa de fazer o que eu sempre desejei, o que sempre torci que ele fizesse.

E olhe que os melhores argumentos não lhe faltam. É a música tradicional que sofre o preconceito do dia-a-dia, é ela que vem sendo banida dos canais de comunicação, produção e distribuição comercial dos dias de hoje, é a ela que se nega o espaço, a sobrevida, a exposição que permite a perpetuação. Poderíamos, sim, como argumentou o secretário, tratar da continuidade desta espécie de manifestação artística através de políticas públicas de inclusão, da mesma forma como se faz com minorias sócio-econômico-raciais no Brasil de hoje, afinal de contas, estas mega atrações mais recentes há muito tempo já não são apenas manifestações culturais; são impérios econômicos, atividades meramente empresariais, indústrias de arte de massa, basta ver a forma como este tipo de música é elaborado em verdadeiras linhas de produção automatizadas, moldes, padrões de repetição que chegam ao limite de permitir o questionamento acerca da presença de alguma atividade criativa no processo. Esta indústria se disfarça de arte pra concorrer com a própria arte em condições que, segundo alega, devem ser de absoluta igualdade, como se não fossem desiguais em essência.

Apesar de tudo isso, a perspectiva de intervenção do poder público neste domínio me arrepia dos pés à cabeça. A sociedade brasileira abraça e defende com unhas e dentes o princípio da ampla liberdade de expressão e de manifestação do pensamento. A verdade – dolorosa, incômoda, mas verdade – é que esta expressão não está obrigada a ser compatível com o padrão de bom gosto de um determinado segmento social, econômico, etário ou intelectual. Ao cidadão brasileiro, portanto, é assegurado o direito fundamental ao mau gosto, mesmo objetivamente constatado, e ainda que sabidamente prejudicial aos olhos, aos ouvidos, estômagos e cérebros.

A questão que veio à tona na Paraíba, portanto, não é somente de incentivar o mais frágil e tradicional, e deixar o mais forte e comercial entregue às regras de mercado. A pretexto de oferecer as opções artísticas que determinado gestor entende adequadas, o poder público interfere no domínio cultural, endossa um estilo de arte em detrimento de outro, seleciona repertórios intelectuais e acaba por tomar uma decisão semântica, que eticamente não poderia tomar em nome do cidadão. Nada me parece mais invasivo e impertinente, do ponto de vista da influência do Estado na formação da opinião pública, da personalidade do indivíduo e da consciência cultural.

Não tenho dúvida alguma a respeito do acerto da posição do secretário, que, aliás, muito mais do que uma posição pessoal, me parece ser uma política governamental ampla e genérica de valorização de cultura e de tradições populares. Levadas em consideração as circunstâncias da região, a contraposição entre a realidade econômica dos grandes e pequenos artistas, os recursos escassos de que dispõe o Estado para apoio a festejos e eventos turísticos de massa, as prioridades estabelecidas pela gestão e o cenário cultural do São João, essa parece mesmo ser a política correta para o momento, sem tirar nem pôr.

O caso particular, portanto, é muito menos polêmico do que o que parece ser. O poder público tem recursos limitados, e precisa, por imperativo fiscal e moral, gastar menos. As atrações mais caras vão continuar a ocupar o espaço que sempre tiveram, por meio dos canais que sempre estiveram abertos a elas: iniciativa privada e meios de comunicação de massa de enorme alcance. Nenhum prejuízo para o evento, para o público, para os profissionais, empresários ou para o Estado. Nenhuma crítica à decisão administrativa para o caso, se o propósito é apenas inclusivo em relação aos artistas de menor expressão, e econômico em relação aos cofres públicos.

A única preocupação que fica é o fato do agente público, nesta condição, desempenhando a sua função, rotular uma determinada forma de expressão artística – e não importa seja esta forma de expressão de ótimo ou péssimo gosto – para fazer valer uma concepção pessoal de arte, seus valores culturais individuais – e, de novo, não importa o quão sofisticados e refinados forem estes valores individuais.

O Estado deve preservar o patrimônio cultural. Deve garantir apoio às manifestações tradicionais, mas precisa alavancar os eventos de turismo. Precisa ser isonômico no tratamento dos artistas, mas deve levar em consideração as distinções de dimensão e de acesso aos canais convencionais de divulgação entre eles. Precisa proteger crianças de conteúdo nocivo à sua formação, mas tem obrigação de respeitar a liberdade de expressão e manifestação do pensamento, mesmo sendo esta expressão de objetivo mau gosto. Deve oferecer opções culturais e de lazer construtivas, edificantes, mas não pode, a critério de um agente seu, impedir o exercício do direito fundamental ao mau gosto.

A verdade é que a questão não tem solução fácil. Não é tema para caça às bruxas nem reações destemperadas, de qualquer dos envolvidos. Com um pouco de jogo de cintura, poderia ser tratada às escondidas, sem polêmica e sem solavancos a vida inteira, mas já que apareceu, precisamos reconhecer que é importante, e que alguém já deveria ter tido a iniciativa de levantá-la. Chegou a hora de discutir – é bom não desviar o foco desta questão, que é a que realmente importa – qual o limite da intervenção do Estado no domínio cultural para que ele cumpra os seus papéis institucionais e constitucionais sem invadir as garantias individuais do cidadão.

O secretário formulou uma política correta, consciente, mas anunciou do jeito errado.

Escolheu, sem sombra de dúvida, o destino certo, mas esqueceu-se que a essência da boa prática democrática nos recomenda a tentar chegar lá por outro caminho, por difícil que seja.

Este o Brasil já trilhou e já viu que não serve. O risco é alto demais.

 

Por Cláudio Lucena, advogado e professor  do Departamento de Direito Privado da Universidade Estadual da Paraíba

Artigo publicado na Revista Consultor Jurídico, edição de 3 de maio de 2011. Disponível em www.conjur.com.br. Imagens 1 e 2 obtidas através do serviço Google Images.